15.9.09

fiquei parvo nas noites ritual...

Descobri o mitico "monólogo" dessa noite:

Estive à dez minutos atrás na varanda do meu quinto andar
a observar a cúpula invisivel entre o céu e o enorme lego de betão
e a sentir-me um inquilino passageiro desta pensão de duas estrelas perdida
na imensa cidade negra a que damos o nome de Universo.
Curiosamente, parece que é o único sitio que
temos para passar a longa noite que nos espera
e é aí que eu saiu para apanhar a frequência.
Como que a comer um ponto e
a cagar um verso.

No meu prisma, a encaixar,
provavelmente no de outros feito um filósofo de merda,
mas a vida é isso mesmo,
um monte de gente a fazer de conta que se entende
e ninguem sabe dizer o que viveu.
Por isso nos pedem que caminhemos alegres para o precipicio sem questionar.
Porque estaremos sempre longe.
Mas longe rapidamente fica perto
e perto rapidamente passa por nós.
Eu não quero mandar-te para baixo.
Mas eu sei que me entendes.
Tu também tens medo de morrer,
toda a gente tem.
Só que normalmente inventamos nomes de problemas
para nos convencermos que estamos ocupados
a resolver uma situação importante
quando não tem importância nenhuma.

Entretanto o tapete rola e nós irritamo-nos
com uma inevitabilidade
e nos nossos sonhos dizemos
"Torna-me imortal, torna-me imortal,
eu não vou aguentar deixar de existir!"

E é ai que eu entro para sair da frequência.
Seduzir-te com os meus sonhos,
tu não ves como eu empreendo?
E como eu e mais um milhão de sonhadores leva
com ele muitos braços de outros, acéfalos,
na lotaria dos ideais,
descrentes beijando o número do bilhete.

Mas devo dizer-te que a viagem é tua
e não quero empurrar-te á força para a rua.
Se eu falhar vou passar de Deus a carrasco,
embalsamado e metido dentro de um frasco
para te lembrares da mentira.
Mas a verdade, é que ganhamos sempre.


Manel Cruz

Sem comentários: