29.4.10

A relva

As últimas 3 semanas foram desgastantes, desde a conversa de Massas até ao teste de História de hoje. Esta tarde senti que podia marcar os passos com menos tensão e ir por caminhos diferentes.

Tenho ido ao 35 de fernão magalhães, vi O Comboio das 3 e 10 (3:10 To Yuma) e fui ao blockbuster da rua da alegria (em liquidação total por 1 euro o filme) comprar, entre outros, Rock & Rolla, Vigilance (dos Lynch) e Once Upon A Time In Mexico (Robert Rodriguez, o realizador sem catálises: só cardinais).

A imagem de um andar singular lembrou-me os versos da Popless, tenho ouvido Nick Cave e Art Of Noise e este último, tal como Wild Wild Life dos T.H., deve ter ficado no meu subconsciente desde miúdo, vindo à tona ontem.
Também podia dizer que tenho bebido muito chá, que gostei muito de alguns excertos do Memorial do Convento ou ainda dissertar sobre formigas em jeito melodramático, mas ficava mal e não me apetece.



por onde passa nem a relva cresce

21.4.10

sempre-a-mudar, sempre-a-pensar(...)

Amanhã vou apresentar O Processo do Franz Kafka.
Esta curta do Ronaldo Fonseca (peixe : avião) foi apresentada num festival bracarense a propósito do "plano kafkiano": a comida estava boa, mas algo em mim mudou.

Até quando durarão as obras?


Nick Drake - Day is done

17.4.10

Ocorreu-me a seguinte selecção.



Respectivamente: Jay Leonhart, Al Jarreau, Rao Kyao, Tom Waits, Chet Baker e Tito Paris.

13.4.10

Foi um dia estranho e emocional. Não sou o único a perder tempo nos ponteiro das rosas. É má política tendo em conta A.P., História, Português (Kafka), Inglês (Joyce), Psicologia e Baixo (Look for the Silver Lining).

Entretanto descobri o génio de Glauber Rocha.

Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964)

12.4.10

Take five

Don't get Standard: just take five.

Diante da Lei

Diante da lei está um guarda-portão. Um homem do campo dirige-se a este guarda-portão e pede para entrar na Lei. Mas o guarda-portão diz que, agora, não o pode deixar entrar. Então o homem reflecte e pergunta se, portanto, lhe será permitido entrar mais tarde. “É possível” diz o guarda-portão, “mas agora não”. Como o portão que dá acesso à Lei está aberto como sempre e o guarda-portão se coloca ao lado, o homem curva-se para, através do portão, olhar para o interior. Quando o guarda-portão dá por isso, ri-se e diz: “Se te sentes tão atraído, tenta então entrar apesar da minha proibição. Mas nota: sou poderoso. E sou apenas o ínfimo dos guarda-portões. De sala em sala, porém, há guarda-portões cada vez mais poderosos. Nem sequer eu posso suportar a mera contemplação do terceiro.” O homem do campo não estava à espera deste tipo de dificuldades, a Lei deve, pois, pensa ele, ser acessível a qualquer pessoa e sempre que esta quiser, mas quando agora observa com cuidado o guarda-portão, com o seu casaco de peles, o grande nariz pontiagudo, a longa barba fina, negra e tártara, decide, apesar de tudo, que é preferível esperar até que receba a autorização para entrar. O guarda-portão dá-lhe um escabelo e deixa-o sentar-se ao lado da porta. Permanece sentado aí durante dias e anos a fio. Faz muitas tentativas para ser admitido e cansa o guarda-portão com os seus pedidos. O guarda-portão coloca-lhe frequentemente pequenas questões, faz-lhe perguntas sobre a sua terra natal e sobre muitas outras coisas, contudo, são perguntas desinteressadas como as que são feitas por pessoas importantes e, por fim, diz-lhe sempre que ainda não o pode deixar entrar. O homem que se equipou profusamente para a sua viagem, utiliza tudo, por mais valioso que seja, para subornar o guarda-portão. Este, de facto, aceita tudo, no entanto comenta: “Só o aceito para que não penses que descuidaste alguma coisa.” Durante muitos anos, o homem observa o guarda-portão quase ininterruptamente. Esquece-se de outros guarda-portões e este primeiro parece-lhe ser o último obstáculo para a entrada na Lei. Nos primeiros anos, amaldiçoa o infeliz acaso em voz alta, mais tarde, quando vai envelhecendo, limita-se apenas a resmungar entre dentes. Torna-se infantil, e, como ao fim de tanto estudar o guarda-portão durante anos lhe conhece até as pulgas da gola do seu casaco de peles, pede também a estas para o ajudarem e fazerem com que o porteiro mude de opinião. Por fim, a sua vista torna-se fraca e não sabe se está realmente a escurecer à sua volta ou se são apenas os olhos que o estão a iludir. Contudo, reconhece agora na escuridão um brilho que irrompe da porta da Lei de uma forma indelével. Agora, já não tem muito tempo de vida. Antes da sua morte, acumulam-se na sua cabeça as experiências de todo o tempo em redor de uma única pergunta que até agora não fez ao guarda-portão. Faz-lhe sinal porque não pode endireitar o seu corpo entorpecido. O guarda-portão tem que curvar-se profundamente para ele, pois a diferença das estaturas alterou-se em desfavor do homem. “O que queres saber ainda mais”, pergunta o guarda-portão, “és insaciável.” “É que toda a gente aspira à Lei”, diz o homem, “como se compreende que em todos estes anos ninguém, a não ser eu, tenha pedido para entrar.” O guarda-portão reconhece que o homem se encontra à beira do fim e, para alcançar ainda o seu ouvido a perecer, grita-lhe: “Aqui, ninguém mais podia ser admitido, pois esta entrada estava-te destinada apenas a ti. Agora, vou-me embora e fecho-a”.

Franz Kafka, Der Process


Eu acho que é isso que o tribunal quer que eu pense. Sim, essa é a conspiração: convencer-nos a todos de que o mundo enlouqueceu, disforme, insignificante, absurdo. O esquema sujo é esse. Pois perdi o meu caso. E daí? Tu, também tu o estás a perder. Está tudo perdido, tudo. Mas isso importa? Será que sentencia todo o mundo à loucura?

Josef K., segundo Orson Welles (1963).

11.4.10

Em Bolonha

"Quem tem um fascínio por massas devia ficar-se pelo esparguete" (9/4/10).

Foi uma boa semana entre Milão e Firenze. Agora tenho que voltar a Josef K. de O Processo.

Tanto na frase em cima como no romance de Kafka se referem, em parte, à "outra porta de entrada para esse clube social". um "paradigma da humanidade".

Let's Get Lost - Chet Baker